15/04/10

Causas há muitas


Não proponhas acções tão sérias, Miguel! No Facebook, nascem Causas como cogumelos e esta é bem divertida:

Contra os crimes da Igreja: panos e bandeiras negras para receber o papa

«Em contraponto ao grande negócio das bandeirinhas e faixas papais oficiais, vamos todos pôr panos pretos nas janelas e bandeiras pretas nos automóveis nos dias 11, 12 e 13 de Maio aquando da visita de Ratzinger.»

Misturando memórias de Timor, do Europeu de futebol e do Pai Natal nas varandas, os portugueses gostarão disto!

15 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Camarada Joana,
não me parece que a proposta "eu trabalho apesar da tolerância de ponto" seja menos séria do que as que eu lhe oponho - a título de exemplo.
Só tentei debater que tipo de proposta séria, mas republicana e democraticamente consistente, poderia servir de alternativa à proposta feita bem a sério que apareceu no Facebook, e que, de uma maneira ou de outra diz o mesmo que os responsáveis e beneficiários do poder económico: que devemos trabalhar mais, ou não interromper a batalha da produção a que a crise nos obrigaria, e opor-nos por isso à tolerância de ponto de 13 de Maio…
Mas outras formulações mais leves e populares são possíveis - como "Não pico o ponto nem papo o papa", ou outras do mesmo género - e nem por isso forçosamente menos eficazes ou politicamente certeiras.
E, assim como assim, há coisas mais animadas a fazer a propósito desta visita do Papa do que darmos tiros nos pés da república.

Abraço

miguel

Joana Lopes disse...

Ah mas o que propões faz todo o sentido, eu só quis brincar um pouco com esta história das bandeiras, que é visualmente mais cativante!

Miguel Serras Pereira disse...

E eu também não pensei outra coisa - ou achas que ia pôr assim em causa o nosso programa comum?
Seja como for, acho bastante romanesca a ideia das bandeiras negras - que foram também como o Niet vai recordar dentro de minutos, aposto, as de numerosos grupos anarquistas - como sinal de luto pelos crimes da Igreja. Lembra-me Guerra Junqueiro, o título "O Livro Negro do Padre Diniz" do Camilo e outras coisas assim. É verdade que a coisa se fica, como diria o O'Neill, um pouco pela batina, ou pela denúncia da transgressão que as autoridades eclesiásticas fazem das suas próprias normas.
Assim, talvez viesse a propósito um entendimento anarquista (não dogmático, temperado pelo sindicalismo…) das bandeiras negras, que denunciasse a norma política que a hierarquia da Igreja e a doutrina que a consagra representam, e não só as transgressões, faltas morais ou pecados dos seus monarcas e ministros.
Mas também sublinho que com a multiplicidade das iniciativas e campanhas, contanto que se esforcem o suficiente para serem tão republicanas como se querem, só podemos congratular-nos.

miguel

Anónimo disse...

Se acaso não levam a mal que importune a privacidade do vosso "programa comum", quero apenas dizer que tenho imensa pena de não me encontrar no país, para aproveitar e pintar de preto a minha velhíssima 4L. O que aliás não seria difícil já que, castanha - de ferrugem - quase ela se encontra.

nelson anjos

Joana Lopes disse...

Mas castanho, de ferrugem, também seria uma boa cor par as ditas bandeiras, nelson. Mas sem o simbolismo do negro e com mais dificuldade de encontrar pano no mercado...
Abraço

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Nelson Anjos,
deixe-se lá de cerimónias e junte-se com os meios de que disponha a esta pública conspiração dos iguais - qual privacidade, qual nada, meu caro - pelo livre-pensamento e contra a sacralização de todas as hierarquias antidemocráticas ou "legítimos superiores".
Abraço republicano

msp

Ricardo Alves disse...

Podemos sair todos à rua vestidos de negro no dia 13 de maio - de luto pela laicidade insultada.

CN disse...

Crimes da Igreja. Estou a ver...

Vou gostar das próximas oportunidades de fazer generalizações...

Joana Lopes disse...

Alguém «generalizou», CN?

NG disse...

"de luto pela laicidade insultada."

o que insulta a laicidade responsável é o laicismo fundamentalista, Ricardo.

Ricardo Alves disse...

E o que é o laicismo fundamentalista, Nuno?

NG disse...

É a birra constante com toda e qualquer expressão religiosa no espaço público. É o desejo de remeter à clandestinidade o mínimo sinal de convicção religiosa e de impõr pela força do estado, ainda por cima de forma dissimulada, a doutrinação ateísta.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Nuno Gaspar,
não pretendo substituir-me ao Ricardo Alves na resposta ao seu comentário, mas gostaria de observar o seguinte: a laicidade que a construção de uma ordem democrática requer não implica a clandestinidade das convicções religiosas, o veto da sua discussão no espaço público informal dos encontros, reuniões, associações, etc. da vida quotidiana. Exclui, sim, a autoridade religiosa do espaço públcio formal de deliberação e decisão das leis: - como exclui que uma verdade religiosa (ou de outro género) que se afirme como lei acima da deliberação e da decisão dos cidadãos possa limitar estas últimas ou a sua afirmação como fonte e validação da configuração das instituições e da lei.
Para lhe dar um exemplo, embora ache que o "culto mariano" que se celebra em Fátima é absolutamente obscurantista e supersticioso, não me passa pela cabeça propor a proibição das peregrinações, etc. Mas defendo que o Presidente da República, enquanto tal, que está vinculado a uma Constituição laica, não deve participar oficialmente nessas celebrações. O que significa, por exemplo, que, se o cidadão Aníbal Cavaco Silva quiser dar três voltas de joelhos à capela das aparições, deve ser livre de o fazer a título privado, sem honras ou protocolo de Presidente, e, uma vez que o cargo que ocupa comporta certas obrigações, isso indica que o deverá fazer declarando que se desloca a Fátima a título particular e não como magistrado público.
É a Igreja de Roma que formula uma pretensão abusiva ao requerer a presença do Presidente da República a título oficial no santuário de Fátima. E que quem protesta contra pretensões desse tipo seja acusado de perseguir os católicos é pelo menos extravagante, mas também sintoma de um apetite de poder no mínimo antidemocrático.
De acordo - ou ainda não?
Com a cordial suadação abrantina de há pouco

msp

NG disse...

"uma pretensão abusiva ao requerer a presença do Presidente da República a título oficial no santuário de Fátima."

Acho que o Presidente da República, mesmo a título oficial, tanto pode ir a Fátima como à mesquita de Lisboa, como à sinagoga ou a uma reunião da AAP que isso em nada belisca a condição laica do Estado. Pelo contrário, representa o seu respeito para com as diferentes sensibilidades religiosas. Ao se recusar a participar em qualquer evento deste âmbito até poderia estar a dar sinal de desqualificação ou menoridade desse interesse dos seus cidadãos. E aí, sim, perderia imparcialidade.
Este caso é apenas e só mais um pretexto para desancar em quem pensa diferente sobre certas coisas. 'Tá visto, depois deste outros se seguirão.

Saudações Chavedourianas

NG

Saudaç

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Nuno,
você escede-se quando escreve:
"Acho que o Presidente da República, mesmo a título oficial, tanto pode ir a Fátima como à mesquita de Lisboa, como à sinagoga ou a uma reunião da AAP que isso em nada belisca a condição laica do Estado"

Veja bem que a "liberdade religiosa" é só um caso, ainda que historicamente muito importante, da "liberdade de consciência" e da "liberdade de associação". O Presidente da República não poderia então deixar de aparecer equitativamente, não só num número bastante grande de celebrações das diversas confissões religiosas, como em tudo o que fosse sessão de aniversário ou celebração solene de partidos políticos, associações ecologistas,, confrarias de adversários das práticas cinegéticas, e dos clubes de pesca à linha, sociedades de defesa dos animais, colectivos naturistas ou de adeptos do espiritismo e fiéis da metempsicose, festejos da Causa Monárquica promovidos em honra de Fernando Nobre, etc., etc.
Ora, como tanto quanto sei, a eleição para o cargo de PR não acarreta necessariamente as capacidades de ubiquidade e aparição que os católicos atribuem à Virgem Maria e ao Corpo de Cristo, o mais alto magistrado da região portuguesa não faria outra coisa.
Mas há razões de fundo - e não só de ordem prática - que se opõem à sua solução. A liberdade de consciência e dos movimentos de opinião organizados requer que o poder político não ponha obstáculos aos exercícios ou actividades que nela se baseiam, mas não exige, antes tende a excluir, que o poder político perfilhe os fins das suas actividades benéficas, as recomende, promova ou apoie oficialmente. Não só, mas também porque as actividades e fins em causa não são nem podem ser por definição convergentes, e isso torna absurdo que o PR - ou outros magistrados - avalizem ou encorajem um dia este movimento de opinião organizado (como a Igreja de Roma) e noutro dia um movimento de opinião organizado que visa fins contrários ou rivais.

Está a ver o meu ponto?

Até um destes dias, algures por este Ribatejo

msp