18/05/10

Alegre, que fazer?

No actual contexto, se a candidatura de Manuel Alegre não estivesse tão preocupada em conciliar o apoio de Sócrates e a crítica a Sócrates, ela poderia romper com Sócrates e contribuir para a tripartição do campo político-partidário: esquerda-centro-direita. Na verdade, arriscava-se mesmo a, numa segunda volta, reduzir a tripartição a dictomia: esquerda e centro-direita. Podia não ganhar as eleições, podia diminuir as possibilidades de ganhar as eleições, mas marcava uma diferença importante. Não táctica e estrategicamente, mas do ponto de vista político. Diferença que, aliás, marcava de modo mais claro quando se encontrava sob a asa parlamentar do próprio PS, o que não deixa de ser penoso.

5 comentários:

Pedro Viana disse...

Manuel Alegre tem duas vias à sua frente: maximizar as suas chances de ser eleito PR; contribuir para uma recomposição partidária à Esquerda. Parece-me que MA escolheu a primeira via, tendo em conta as suas mais recentes intervenções. Acho que estas não foram feitas necessariamente com a intenção de evitar que Sócrates decida não o apoiar, mas sim com o intuito de criar uma imagem "moderada" que evite que a parte "moderada" do eleitorado do PS se sinta tentada a votar em Cavaco na 1a volta. Parece-me que a estratégia de MA é colar-se ao centro na 1a volta, "fidelizando" os eleitores de centro-esquerda, e depois guinar à Esquerda (em termos de discurso) na 2a volta de modo a captar os votos na 1a volta no candidato do PCP e abstencionistas de Esquerda.

Em parte porque acho que a probabilidade de MA ganhar a Cavaco é baixa, parece-me que seria muito mais útil à Esquerda que MA fizesse uma campanha de ataque às opções do bloco central PS-PSD. Com sorte isso provocaria suficientemente Sócrates para este avançar com o apoio a um outro candidato, deste modo fracturando talvez de modo permanente o PS. MA quase de certeza que perderia neste cenário, mas na situação de crise em que vivemos e apoiado nos milhões de votos que teria, poderia logo a seguir às eleições presidenciais participar no lançamento duma nova coligação de esquerda (MIC-BE?) capaz de disputar a primazia política ao PS nas eleições legislativas que se adivinham em 2011, e subsequentemente.

Joana Lopes disse...

De acordo com o teu comentário, Pedro, praticamente a 100%.

Infelizmente, penso que a segunda alternativa («poderia logo a seguir às eleições presidenciais participar no lançamento duma nova coligação de esquerda») já existiu quando MA, BE e outros se aproximaram (sessões na reitoria e no Trindade). MA recuou e julgo que voltaria a faz~e-lo nas circunstâncias que descreves.

Miguel Serras Pereira disse...

Camarada Pedro,
sim, como dizes "seria muito mais útil à Esquerda que MA fizesse uma campanha de ataque às opções do bloco central PS-PSD", sobretudo se não se limitasse a apostar na "recomposição partidária" a que te referes, mas tivesse tido a capacidade (relativamente à qual fui sempre céptico, vendo agora infelizmente confirmado o meu cepticismo) de aceitar e promover que a sua candidatura fosse uma campanha pela democracia participativa, e organizada para começar nos termos desta, por uma democracia feita pela participação dos cidadãos, combatendo portanto as opções do Bloco Central em termos que abrissem viasa de facto à democratização do poder político.
Não devia ser uma campanha com o candidato a apresentar propostas concretas ultra-radicais, ou a desempenhar o papel de rosto de uma vanguarda indicando às massas os caminhos a seguir. A insistência na participação democrática dos cidadãos, na necessidade de desprofissionalizar a política, de a despertar na vida quotidiana e nas suas actividades fundamentais (na esfera económica, mas não só) - essa insistência através de uma prática de intervenção e de um tipo de mobilização que actualizassem esses traços, seria aqui o fundamental: a radicalização desejável viria por acréscimo.

Abraço

miguel sp

Pedro Viana disse...

Olá Joana, é verdade que MA poderia ter decidido promover um novo partido/coligação à Esquerda antes das últimas eleições legislativas, e optou por não o fazer. Não é claro para mim porque decidiu tal. O mais provável é porque concluiu que tal iria hipotecar irremediavelmente a possibilidade de chegar a PR. Mas também poderá ter contado o facto dele achar que aquele não era o momento certo para avançar com um novo partido/coligação à Esquerda. Os tempos são agora outros. O potencial de crescimento de tal novo partido/coligação à Esquerda é maior do que nunca, e previsivelmente as novas eleições legislativas terão lugar ainda durante 2011, o que permitiria ao novo partido/coligação à Esquerda melhor potenciar os eleitores que MA "fidelizou" nas presidenciais que vão ocorrer no início de 2011. Note-se que mesmo que MA perca, nada o impede de avançar com o tal novo partido/coligação à Esquerda depois das eleições presidenciais. Se fosse cínico, até acharia provável ser nisso em que MA está a pensar... mas acho que tal seria muito mal visto pelo eleitorado do PS: "então o homem é apoiado pelo PS nas eleições presidenciais e logo após dá-lhe uma facada nas costas, fundando um novo partido/coligação?..."

Olá Miguel, sim, concordo com tudo o que dizes. Parece-me que MA fez algo do género que propões nas últimas eleições presidenciais, com a criação do MIC, mas mais por necessidade, dado que sabia não iria ter o apoio do PS. Não creio que alguma vez tenha acreditado muito na possibilidade da prática política poder ser feita **principalmente** fora dos partidos.

Joana Lopes disse...

Pedro, «inxalá»...