21/05/10

E quando me falam do Papa, lembro-me de Prévert

Pater noster

Notre Père qui êtes aux cieux
Restez-y
Et nous nous resterons sur la terrre
Qui est quelquefois si jolie
Avec ses mystères de New York
Et puis ses mystères de Paris
Qui valent bien celui de la Trinité
Avec son petit canal de l'Ourcq
Sa grande muraille de Chine
Sa rivière de Morlaix
Ses bêtises de Cambrai
Avec son Océan Pacifique
Et ses deux bassins aux Tuilleries
Avec ses bons enfants et ses mauvais sujets
Avec toutes les merveilles du monde
Qui sont là
Simplement sur la terre
Offertes à tout le monde
Éparpillées
Émerveillées elles-même d'être de telles merveilles
Et qui n'osent se l'avouer
Comme une jolie fille nue qui n'ose se montrer
Avec les épouvantables malheurs du monde
Qui sont légion
Avec leurs légionnaires
Aves leur tortionnaires
Avec les maîtres de ce monde
Les maîtres avec leurs prêtres leurs traîtres et leurs reîtres
Avec les saisons
Avec les années
Avec les jolies filles et avec les vieux cons
Avec la paille de la misère pourrissant dans l'acier des canons.

Extrait de "Paroles", Jacques Prévert

12 comentários:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Cara "Blogger",
O Papa já se foi embora, pode respirar à vontade e escrever sobre outros temas.
Eu, que não sou católico, nem recebi de nenhum Deus a graça de acreditar Nele, preocupei-me com a visita do Papa na exacta medida em que ela podia colidir com o meu quotidiano, no trânsito, para ser mais preciso. Foi-se embora, acabou a visita, a preocupação também acabou para mim.
Mas este "Blogue" (que aprecio apesar de discordar com quase tudo o que aqui é escrito), de autores que suponho que devem ser todos tão católicos como eu, apesar de alguns poderem ter sido católicos lá mais para trás, teve tanta produção de "posts" sobre o Papa e a visita papal que só posso assumir que a Igreja Católica é para eles assunto muito mais importante do que para mim. Nada a criticar, cada um nutre as preocupações que acha mais importantes para si.
Mas esta preocupação desmesurada (pela minha medida, claro!) de um grupo de não-católicos com o Papa e a visita papal não deixa de me parecer semelhante à preocupação das mães católicas com a possibilidade de os homossexuais poderem contrair matrimónio.
Que não consigo perceber se se deve a um mero exercício de poder delas sobre os abrangidos pela Lei (a Lei anterior era a favor da sua preferência e esta sua atenção desmesurada ao assunto é para mostrar quem manda, ou quem devia mandar, na opinião delas), ou receio de terem algum filho que, com esta Lei, saia da clandistinidade e se assuma como homossexual, embaraçando a família perante as famílias suas pares que também não apreciam o fenómeno.
Eu reconheço que o cavaleiro da Mancha pode exercer um grande fascínio, até sobre mim próprio, mas permita-me que seja um mero Sancho Pança e que lhe diga "Senhora, são apenas moinhos...".
O poema é obviamente uma maravilha, e eu até posso ler nele um apelo ao liberalismo (neo-, ultra- ou mesmo -selvagem), ou seja, a que nos deixem viver livremente as nossas vidas, ainda que sejamos imperfeitos, e a que não nos queiram impor a vossa (deles) perfeição.
Cumprimentos

Joana Lopes disse...

Manel,
Se eu não te conhecesse há tantos anos, comprava-te... :-)

O papa foi-se embora (só) há uma semana mas levámos com a visita dele e a sua preparação durante meses.E não é tão linear que os efeitos da dita cuja visita não estejam ainda fazer-se sentir: viste por acaso como a popularidade de Cavaco subiu em flecha, numa sondagem que começou a ser feita em 13 de Maio e cujos resultados foram divulgados ontem?

Manuel Vilarinho Pires disse...

Bom dia, Joana!

Levámos com ele durante meses, mas alguns mais do que outros... eu só levei com o trânsito, o feriado e meio que a Isaura teve por ser funcionária pública (óptimo!), e a rarefacção de temas interessantes neste blogue para eu discordar, acredita que quando vi no Facebook uma proposta tua de canonizar a Fátima Campos Ferreira não percebi porquê, porque não vi nenhuma reportagem da TV durante a visita.
Mas o meu ponto é que o assunto é importante para quem é importante, e não há necessidade de lhe acrescentar importância a quem não lha dê, só pelo facto de o ser para os outros.

Quanto à sondagem, desconhecia, mas também me parece muito pouco relevante.
Primeiro, porque a proximidade do Cavaco Silva com a Igreja Católica não é novidade para ninguém, e duvido que alguém agora tenha decidido passar a votar nele por ter descoberto que é católico. Em contraponto, talvez o Governo tenha ido à missa de lenço estendido à espera de lhe calharem algumas moeditas (ou votos) dos crentes...
Agora, em 13 de Maio, a missa papal não terá sido o único acontecimento que pode ter motivado os eleitores a sentirem-se mais identificados com o PR do que com o Governo, pois não? O anúncio das medidas de austeridade imediatamente a seguir à assinatura de um contrato que garante indeminizações milionárias à Brisa e à Soares da Costa se o TGV parar também pode ter contribuído, não? Pelo menos é o meu supônhamos...

Diana Andringa disse...

Manuel,

anda bem que gostou do poema.
Era mesmo só isso que pretendia: respirar um pouco,como nos anos 60, com as palavras de Prévert, como antídoto ao país dos 3 Fs.
Já que gostou, aqui vai outro - que espero não o obrigue a longas teorias sobre Educação, ministras e professores:
Le cancre:
Il dit non avec la tête
Mais il dit oui avec le coeur
Il dit oui à ce qu'il aime
Il dit non au professeur
Il est debout
On le questionne
Et tous les problèmes sont posés
Soudain le fou rire le prend
Et il efface tout
Les chiffres et les mots
Les dates et les noms
Les phrases et les pièges
Et malgré les menaces du maître
Sous les huées des enfants prodiges
Avec des craies de toutes les couleurs
Sur le tableau noir du malheur
Il dessine le visage du bonheur.

Sudações cordiais.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Cara Diana,

Eu encaixo bem o seu lamento sobre longas teorias, e a expectativa, em forma quase de oração, para que não repita a dose, não porque seja especialmente dado a teorizar, mas porque tenho um problema evidente de falta de capacidade de síntese...
E como me esqueci de a avisar, e depois me esqueci de pedir à Joana (que conhece bem o fenómeno) para a avisar, agradeço a chamada de atenção, por discreta que possa ter sido.
E, acedendo, não teorizo!
Mas acrescento que, com uma filha de 13 anos razoavelmente senhora do seu nariz, se acha mais graça a ver essa rebeldia nos filhos dos outros, do que nos nossos...

Cumprimentos cordiais...

Diana Andringa disse...

Manuel,

se a sua filhota conseguir desenhar o rosto da felicidade sobre o quadro negro da desgraça, não sei o que possa haver de melhor a desejar-lhe.
Grata pela contenção, saudações cordiais.

Diana

Manuel Vilarinho Pires disse...

Point taken... mas não fujo à resposta: se fosse feliz sendo rebelde na escola mas mais dócil em casa, também não seria nada mau, mesmo sabendo que às rosas não fica mal terem espinhos...

Ó Joana, aqui para nós, que toda a gente nos ouve, as tuas co-"bloggers" parecem mais perspicazes do que os teus co-"bloggeres" em cruzada permanente contra o (neo- ou ultra- ou -selvagem) liberalismo... só sobra a mais a preocupação com o Papa!

Bom fim de semana!

Joana Lopes disse...

Manel, isso é um plural majestático, porque só tenho aqui esta co-blogger (a Diana).A não ser que estejas a incluir-me no co-

Manuel Vilarinho Pires disse...

Obviamente que estou!
Se bem que vou tomando a demora em me explicares para que serve a esquerda como um vago indício de que talvez não saibas bem para quê...
;-)

Carlos Vidal disse...

Mais preocupante, muito mais preocupante do que o país dos três Fs é o país de dois Ss, o de Soares e o dos "socialistas".
Passar bem.

Manuel Vilarinho Pires disse...

O amigo Vidal é saudosista do fascismo?
Se não é, deve estar a brincar.
De qualquer modo, quer seja, quer não seja, parece...

Carlos Vidal disse...

Ó amigo Vilarinho,
De fado, gosto muito (a Carminho, pois).
De futebol, por vezes (outras, acho chato).
De Fátima, nada (apesar de coisa antropológica de grande dimensão e passível de estudo profundo - mas não para mim, aquilo é um lugar muito incómodo).
Mas, pior que Fátima, muito pior é, para mim, a obra do sr. Soares (desde 1974 pelo menos): o homem andou, andou e conseguiu que em Portugal não existisse hipótese mínima de sociedade justa.
Portanto, tudo, mas mesmo tudo, é preferível aos "Ss".
E por aqui me fico.
Não gosto mesmo nada desta casa.