31/05/10

Sobre infiltrações e histórias mal contadas


Diz-nos a RTP que um grupo extremista se terá infiltrado na manifestação da CGTP no passado Sábado, provocando depois desacatos nas Portas de Stº Antão.
Seguindo uma fonte policial e delineando o perfil de uma ameaça difusa, de uma conspiração oculta, a TV do Estado transformou uma carga policial sobre todas as pessoas que se encontravam naquela rua no resultado das acções maléficas das tenebrosas forças do mal. Há já algum tempo que a agência de comunicação da PSP vai ganhando tempo noticioso para informar os portugueses dos terríveis perigos que correm, devido à nebulosa aglomeração de alguns meliantes que conspiram contra a paz e a ordem pública.
Simplesmente, desta vez há relatos de várias pessoas das mais diversas opiniões e sensibilidades, que contam todas o mesmo, pela simples razão de o terem visto. Na impossibilidade de converter os olhos das testemunhas em ecrãs televisivos, a manobra parece ter falhado. E assim é que tanto um jornalista do SOL, como uma blogger do Jugular nos falam do que realmente aconteceu ao fim da tarde em frente ao Restaurante «Asia». 
Uma detenção aparatosa provocou a indignação dos presentes. O medo que a polícia tem de multidões fez o resto. Rodeados por pessoas vindas da manifestação - e para o bem e para o mal, não consta que 300 mil extremistas tenham descido a Av. da Liberdade naquele dia - chamaram o serviço de intervenção rápida, cujos agentes fizeram exactamente aquilo que o seu nome sugere.: serviram rapidamente com a sua intervenção o conjunto das pessoas que ali se encontrava a observar a cena e que apenas teve tempo de esboçar um gesto de reacção. Não sem antes terem retirado as suas identificações, que como se sabe são incómodas e desnecessárias em momentos desta natureza. Hoje em dia vêm-se tantas coisas na rua.
Quando começaram a empurrar a primeira fila, uma senhora de idade que observava a cena desfaleceu e ficou caída no chão, precisamente no trilho que eles procuravam abrir para fazer passar o carro onde seguia o detido. Como as pessoas não se afastassem imediatamente e protestassem pela demonstração gratuita de violência, iniciaram uma carga policial que só terminou no largo de S. Domingos. Os agentes da PSP devem estar orgulhosos de si próprios, já que demonstraram pela enésima vez a sua especial vocação para espancar turistas, idosos, transeuntes e comerciantes. Os imigrantes sentiram-se desta vez um pouco menos sós.
E se pensarmos que ainda não há uma semana fomos informados do espancamento de dois miúdos  pela polícia e corre célere o boato de novos incidentes verificados na noite de Sábado, no Bairro Alto, tudo isto terá porventura a sua lógica. Sim, aquelas mãos que carregam cassetetes têm subido e descido amiúde, num movimento que prenuncia talvez que algo está para acontecer, algo imprevisível e cujas consequências a custo se imaginam. Ventos e tempestades e etc. e tal...
Num curto momento, nas Portas de Stº Antão, todo o ruído mediático que tem procurado persistentemente inventar a existência de um grupo de indivíduos que seria portador da desordem e provocador de desacatos, os jornalistas que escrevem como polícias, os comentadores que assumem um ar grave para falar do perigo de um surto de violência, tudo isso se revelou em toda a sua estúpida efabulação. É a rua  cheia, que se indigna e se revolta, que os assusta. E nessa rua, os únicos infiltrados estão fardados de azul.

Adenda: O boato sobre espancamentos verificados na noite de Sábado no Bairro Alto, por agentes da PSP, parece confirmar-se. É caso para dizer que cada escavadela uma minhoca - os anarquistas, extemistas e radicais parecem multiplicar-se como coelhos. Ainda hão-de chegar à conclusão de que o Inspector-Geral da Administração Interna faz parte de um grupo infiltrado. Aqui fica, à atenção da jornalista Valentina Marcelino

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