19/09/10

Das desvantagens e da necessidade de um tom adorniano



Calma, não se trata propriamente de um post sobre Adorno. No máximo, umas notas sobre a necessidade de um certo pessimismo. (Diz-se que Adorno era pessimista – e até não é falso, dependendo do que por isso se entender –, daí o título do post.)
Pelo cartoon é que vamos lá. Nada de extravagante: acrescentar um post aos muitos que se têm escrito aqui e acolá – entre a perplexidade, o susto e a consciência do escândalo –, sobre o que se vai passando em França, nos dias que correm. É que só pode mesmo assustar e escandalizar. Assustar, pelas subterrâneas mas nítidas parecenças com o que passou nas décadas que precederam o que se veio a revelar o acontecimento – dir-me-ão se exagero na escolha do adjectivo – monstruoso do séc. XX; escandalizar, pela estupefacção que causa que um autoritarismo que cada vez menos se disfarça e que mina o que – assim – não se pode chamar democracia; escandalizar, ainda, pela percepção de como inércia, comodismo e impotência se conjugam para que se permita que isto vá continuando.
Se é preciso dizer basta, é preciso ter consciência do escândalo: pintar bem escuro o quadro... Ser pessimista? Depende do que por isso se entender. Eu gostaria apenas de distinguir entre o pessimismo de quem procura ser rigoroso num diagnóstico negativo, e o “pessimismo” de quem acha que já nada se pode fazer para alterar uma situação. O segundo não nos interessa, de todo. Um pessimismo que hipostasia o conteúdo negativo do seu diagnóstico é um niilismo (e não vou discorrer aqui sobre o abismo que separa Schopenhauer de Adorno).
No meu pessimismo, eu – e não me julgo só – gostaria apenas que não me tirassem isto: a consciência insofismável de que, em França, há hoje um escândalo que se avoluma. Só a consciência do escândalo permite dizer basta. Digo “insofismável” porque – convenhamos – eu não me vou pôr aqui a discutir jurisprudência ou, no extremo oposto, a argumentar com pessoas que escrevem (como na caixa de comentários do arrastão) que isto ou aquilo (e não interessa o quê) está-lhes na massa do sangue – dos ciganos.
Em certos casos, é mesmo necessário ser-se pessimista no diagnóstico. Quanto às desvantagens – um tom sisudo? –, procurei prevenir-me de antemão com um cartoon bem humorado.

1 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

MARÉ ALTA. Excelente post - ou, tanto quanto possível, defintivo - camarada João Pedro.

Abrç

miguel sp