21/01/11

Quem tem medo da instabilidade?

É óbvio que qualquer propósito apostado num processo de democratização efectiva tanto na região portuguesa como na da UE, e por aí fora, implica uma acção desestabilizadora dos equilíbrios políticos do regime, o reforço e a extensão deliberados doa factores de crise das instituições políticas que governam os aparelhos de Estado e da economia estabelecidos.

É óbvio também que a posição e o programa de Manuel Alegre são outros e apostam na consolidação do regime:

O candidato presidencial Manuel Alegre considerou hoje o seu adversário Cavaco Silva se tornou “num factor de instabilidade”. (…)

O histórico socialista, em entrevista à Rádio Renascença no último dia de campanha, disse estar preocupado com o país, que “precisa de confiança e de um Presidente capaz de unir os portugueses”, acrescentando que o actual Presidente, Cavaco Silva, irá “provocar uma crise política”, o que “cria um sentimento de insegurança e instabilidade”, já que o Presidente é o “garante do regular funcionamento das instituições” e um “candidato supra partidário, ainda que apoiado por partidos políticos”.


Assim, é incompreensível e democraticamente injustificável que aqueles que no BE, e não só, entendem que, apesar de tudo, continua a ser importante derrotar a candidatura de Cavaco Silva nas próximas eleições, não se demarquem e dessolidarizem e do projecto político de Alegre, recusando-se a avalizá-lo, vincando a sua opção por outro campo, e tentando abrir a perspectiva de democratização do regime até mesmo à luta eleitoral contra Cavaco. Embora a minha "recomendação de voto" seja outra, não teria sido impossível ao BE nem a outros uma tomada de posição — talvez até mais eficaz, mas não é isso que discuto agora — como a que deixei atrás esboçada. Uma tomada de posição, que, por exemplo, formalmente fosse semelhante à do PCP por ocasião das presidenciais que, na segunda volta, opuseram Mário Soares a Freitas do Amaral.

Sem dúvida, uma tal posição seria por si só insuficiente para assegurar o único tipo de intervenção nas presidenciais que, segundo creio, valeria a pena, ou seja: uma intervenção no cenário eleitoral, a título de combate secundário ou de “aproveitamento” que permitisse chamar a atenção para as tarefas de fundo de uma democratização efective e agisse de modo a contestar, no seu próprio campo, os princípios hierárqucos que prevalecem na cena política dominante e lhe são consubstanciais. Mas, deste ponto de vista, sempre seria um mal menor com a vantagem inestimável de não se apresentar como bem supremo ou momento decisivo da "luta final".

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