18/01/11

Sobre o fetiche castelhano do Nuno Tito

Em relação a este post do Nuno Tito, nomeadamente no que à questão basca diz respeito, o Miguel Madeira já aqui disse muita coisa com que concordo. Basicamente, o Nuno confunde direito à autodeterminação com independência nacional. Mais: coloca em causa o primeiro em nome da segunda. Eu defendo o direito à autodeterminação e por isso defendo que no País Basco deve existir um referendo. No debate em questão, defenderei que o País Basco se mantenha parte da Espanha. E se esta posição vencer, qualquer democrata que se preze não deverá falar de dominação de Madrid sobre os bascos. Como disse o Miguel, poderão os bascos pretender determinarem-se como bascos e espanhóis ou simplesmente espanhóis. O referendo não terá validade apenas se vencer a posição nacionalista basca (embora, diga-se, também seja possível pensar o nacionalismo basco no quadro de uma Espanha multinacional, de tal modo que a derrota do independentismo não significa imediatamente a derrota de todo e qualquer nacionalismo basco).

Na verdade, a posição do Nuno parece-me exemplarmente refém de uma duplicidade. Por um lado, diz que a questão da forma política (se nação, se continente, se mundo) não é tão relevante como a questão dos conteúdos políticos que substanciam essa forma (se socialismo ou se liberalismo, por exemplo); e é assim que ele não hesita em dizer que em relação a um tema como o Tratado Constituinte Europeu não haverá outra hipótese, para um comunista, que não a de preferir um patriotismo socialista a um europeísmo liberal. Por outro lado, o Nuno diz que no tempo do imperialismo, tempo em que hoje viveremos, o elogio do patriotismo é em si mesmo positivo, parecendo conceder prioridade à “unidade nacional-popular anti-imperialista” em detrimento da ideia de uma cisão transnacional entre esquerda e direita, socialismo e liberalismo, anticapitalismo ou capitalismo.

Ora, da minha parte, nem tanto ao mar, nem tanto à terra; a forma e o conteúdo não se separam e será por aqui que teremos que fazer caminho. O que é importante, creio, é não eliminarmos o problema da ordem do dia. Os comunistas em particular e os seres humanos em geral devem saber que a identidade nacional depende tanto do seu passado como do seu presente. Não é apenas resultado da sua persistência mas também da sua permanente reinvenção. De modo que nenhuma política pode dizer que é patriótica porque as circunstâncias são nacionais, uma vez que as circunstâncias são também produto dessa política.

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