27/06/11

Realismo democrático

Mais ou menos directamente, tenho procurado, em vários posts recentes, denunciar a ilusão de que a resposta democrática à crise e à sua exploração pela oligarquia passa pela criação de um novo partido vocacionado, no interior do regime e por via essencialmente representativa, para participar num novo governo.

A denúncia dessa ilusão passa por uma série de pontos fundamentais que não vou aqui retomar — cf. Que movimento por que democracia e Que democracia? —  e entre os quais indicarei apenas os dois seguintes: 1. a insuficiência democrática da representação e da política profissional e a sua transformação em obstáculo ao exercício pleno da cidadania, à sua extensão tendencialmente governante,  e 2. a inadequação das formas de organização de tipo representativo, estipulando a reserva do essencial do exercício do poder político aos representantes, para quem tenha em vista a extensão e intensificação da participação democrática de base como alternativa de regime e via de democratização instituinte das actuais relações de poder.

Mas esta denúncia necessária dos limites da representação não passa pela renúncia ou menorização do imediato ou à intervenção visando marcar, ao mesmo tempo que a possibilidade de transformação da cena política, a sua agenda quotidiana. Se, dentro do horizonte previsível, é improvável (embora devamos estar sempre preparados para a irrupção do improvável) que a extensão do exercício igualitário da deliberação e da decisão democrática se torne propriamente governante, isso não significa que um movimento de oposição organizado numa base semelhante esteja condenado à impotência prática e não possa introduzir transformações decisivas na sociedade em cujo interior age. Digamos até que é mais realista apostar que estas se vão fazendo por esta via do que pela da renúncia "possibilista" à exigência da "democracia já". É através da capacidade de ser uma oposição cada vez mais efectiva e consequente às formas institucionais (políticas e "económicas") que a negam — e não através da participação governamental nos termos em que a determinam essas formas que a excluem determinam — que a democracia mostra e aumenta a sua força e pode, assim, inscrever a sua diferença e abrir caminhos novos, desde já, na vida e na realidade política do dia a dia.

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