12/10/11

O regime de Assad na Síria: Nova força de vanguarda do anti-imperialismo?

"Não somos comunistas, se o comunismo significa o sistema que entrou em colapso em 1990. Lembrem-se que hoje os comunistas são os capitalistas mais eficientes e implacáveis. Na China de hoje, temos um capitalismo que é ainda mais dinâmico do que o (…) capitalismo americano", afirmou Zizek num recente discurso que endereçou aos "acampados" de Wall Street. Mas à falta de número mais nutrido de ditaduras ditas "comunistas", numa antífrase que infelizmente se tornou corrente, os nostálgicos do sistema que entrou em colpaso em 1990 e mais ainda dos bons e velhos tempos das purgas, deportações e chacinas associadas ao nome de Estaline, entendem hoje de sair a terreno em defesa de tudo o que lhes cheire a ditadura oligárquica, contanto que rival da potência americana. É o caso do regime sírio cuja aclamação como nova força de vanguarda do anti-imperialismo está na calha dos que se reclamam das glórias do "socialismo realmente existente". Assim, animado talvez por um recente número do Avante!, que não diz uma palavra sobre a repressão sangrenta da ditadura síria, mas põe o rastilho, insinuando que os que a combatem são agentes do imperialismo ou servem objectivamente os seus interesses, um destacado elemento das tropas de choque do estalinismo e conhecido simpatizante do chauvinismo basco mais impenitente, saúda a manifestação de apoio ao regime de Assad e os "sírios que se juntaram em Damasco contra as provocações imperialistas e em defesa do governo".

Eis, para quem tenha dúvidas sobre o regime de Damasco, uma das incontáveis notícias que a Amnistia Internacional tem divulado sobre o que se passa na Síria:

A Amnistia Internacional divulgou novas provas da brutalidade extrema levada a cabo contra os manifestantes sírios e as suas famílias.

No dia 13 de Setembro, foi encontrado o corpo mutilado de uma jovem de 18 anos, Zainab al-Hosni de Homs, pela sua família, em condições horrendas. Este foi o primeiro caso conhecido de uma mulher morta sob custódia durante a recente agitação na Síria.

A família tinha-se deslocado à morgue para identificar o corpo do irmão de Zainab, Mohammad, que tinha sido também detido, alegadamente torturado e morto durante a sua detenção. Zainab foi decapitada, os seus braços foram cortados e a sua pele foi removida.

“Se se confirmar que Zainab se encontrava sob custódia na altura da sua morte, este será um dos casos mais perturbadores de morte durante a detenção”, afirmou Philip Luther, Vice-Director da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África.

“Nos últimos meses, documentámos outros casos de manifestantes em que os seus corpos mutilados foram devolvidos às famílias, mas este é particularmente chocante.”

Os homicídios de Zainab e Mohammad fazem aumentar para 103 os casos registados pela Amnistia Internacional de mortes sob custódia, desde que os protestos em massa começaram na Síria, em Março.

A Amnistia Internacional registou 15 novos casos de mortes durante custódia desde o seu relatório: “Deadly detention: Deaths in custody amid popular protest in Syria”, publicado a 31 de Agosto. Os corpos apresentavam sinais de espancamento, tiros e facadas.

Zainab al-Hosni foi raptada no dia 27 de Julho por indivíduos vestidos à paisana que se acredita pertencerem às forças de segurança, alegadamente para pressionar o seu irmão, o activista Mohammad Deeb al-Hosni, a entregar-se.

Mohammad Deeb al-Hosni, de 27 anos de idade, estava a organizar protestos em Homs desde o inicio das manifestações. Depois da detenção de Zainab em Julho, os raptores disseram-lhe ao telefone que esta só seria libertada se ele parasse as suas actividades anti-regime. Foi detido mais tarde, a 10 de Setembro, e mantido preso sob custódia no departamento de Segurança Política em Homs.

Três dias mais tarde, a sua mãe foi intimada pelas forças de segurança a ir levantar o corpo de Mohammad a um hospital militar, a 13 de Setembro. O corpo mostrava sinais de tortura, incluindo nódoas negras nas costas e queimaduras de cigarro. Tinha sido atingido por um tiro no braço direito, outro na perna direita e três vezes no peito.

A sua mãe descobriu o corpo mutilado de Zainab por acaso, no mesmo hospital militar. Contudo, a família só teve autorização para levantar o corpo de Zainab no dia 17 de Setembro. Foi, ainda, obrigada a assinar um documento afirmando que Zainab e Mohammad foram raptados e mortos por um grupo armado.

“Não há sinais da diminuição da tortura e dos homicídios na Síria”, acrescentou Philip Luther. “A quantidade de relatos de pessoas que morrem sob custódia fazem aumentar o número de provas da prática de crimes contra a humanidade e devia incentivar o Conselho de Segurança da ONU a apresentar a situação no país ao Tribunal Penal Internacional.”

A Amnistia Internacional compilou os nomes de mais de 2200 pessoas que morreram desde o inicio dos protestos pro-reforma. Centenas de outras pessoas foram presas, muitas delas mantidas em regime de incomunicabilidade em locais desconhecidos correndo o risco de tortura ou morte.

1 comentários:

Anónimo disse...

A cruel repressão e o fim do relativo silêncio embaraçoso da NATO para com a dramática situação de pré-guerra civil na Siria, com uma multitude de actos de genocídio celerados- 217 crianças barbaramente assassinadas num total de perto de 4 mil crimes e 20 mil prisioneiros políticos -pode levar o famigerado poker da " intervenção " militar comandada pelos USA a atacar também o Irão. Com efeito, Patrick Cockburn escreve hoje no The Independent sobre o estranho complot denunciado pelo Procurador-Geral yankee sobre o envolvimento de um agente iraniano - ligado aos Guardas da Revolução de Teerão - na tentativa de aliciamento pela quantia de 1,5 milhões de dólares de um " comando " de narcotraficantes mexicanos para tentarem executar o embaixador saudita em Washington. P. Cockburn compara o efeito político do anúncio do Procurador-Geral com o discurso de Colin Powell na ONU para " demonstrar " a exequibilidade da tese sobre a existência de armas de destruição massiva na posse das forças de Saddam Hussein. Niet