11/07/12

O autismo das elites

Quem elogia, como Helena Garrido (via João Rodrigues), o provável excedente comercial que Portugal conseguirá obter este ano, enquanto omite que tal se deve em grande parte ao colapso do consumo interno (e consequente redução de importações) resultante da brutal queda de salários que ocorreu nos últimos dois anos, prova claramente que "a nossa elite não faz a mais pálida ideia do país onde vive. E tem a sua experiência e a experiência de quem a rodeia como única referência." Colapso esse que ocorreu essencialmente no que se refere ao consumo por parte daqueles que menos auferem. Como se pode constatar analisando a diferença no número de automóveis vendidos nos primeiros semestres de 2011 e 2012, por marca. Enquanto que marcas cujas vendas assentam essencialmente em automóveis de menor cilindrada, como a Seat, Ford, Nissan, Opel, Renault, Peugeot, tiveram descidas de entre 40 a 70% entre 2011 e 2012, marcas que se posicionam no extremo oposto do mercado de automóveis, como a Audi, BMW ou Porsche, viram as suas vendas diminuirem apenas entre 7 a 20%. Claramente, nem todos estão a sofrer de igual modo com a austeridade.

4 comentários:

Anónimo disse...

mas vão lá parar. os empresároides portugueses vão descobrir que os portugueses são mais do que trabalhadores a quem sacar mais uns tustos para o bmw, são acima de tudo consumidores do que eles vendem.

David da Bernarda disse...

O Autismo dos assalariados...

Se formos mais fundo teremos de debater também a sustentabilidade da economia de um país (que no nosso caso deixou de produzir para tudo importar, até alimentos...) e o absurdo da sociedade de consumo, onde as pessoas se matam a trabalhar e berram por trabalho assalariado para depois se dedicarem ao consumo alienado de mercadorias...

Texto de Pacheco Pereira disse...

«E depois há um "não só" que se agiganta todos os dias e seria bom que o Governo se apercebesse de que aí é que está a "tempestade perfeita": a questão da igualdade e justiça dos sacrifícios. E aqui o Governo tem mostrado ser submisso aos poderosos, à EDP, aos interesses dos bancos, aos donos das PPP, à elite de poder que circula entre a política as grandes sociedades de advogados, as consultoras, as administrações, etc. É verdade que mesmo esses já perderam alguma coisa, mas foram apenas beliscados, tocados ao de leve, se compararmos com o desastre absoluto que é estar desempregado aos 40 anos, sem qualquer esperança de voltar a ter emprego, com a derrocada da economia familiar, da casa, do carro quando havia, dos estudos dos filhos, de uma vida que era decente e que agora é indecente. O Governo aparece como atacando as pessoas, rasgando os contratos com elas, e, em contraste, como tendo um sumo respeito pelos interesses, mesmo quando, como no caso das PPP, roçam o crime.»
Pacheco Pereira (Versão do Público de 7 de Julho de 2012.)

Banda in barbar disse...

E depois há um "não só" que se agiganta todos os dias e seria bom que o Governo se apercebesse de que aí é que está a "tempestade perfeita": a questão da igualdade e justiça dos sacrifícios. E aqui o Governo tem mostrado ser submisso aos poderosos, à EDP, aos interesses dos bancos, aos donos das PPP, à elite de poder que circula entre a política as grandes sociedades de advogados, as consultoras, as administrações, etc. É verdade que mesmo esses já perderam alguma coisa, mas foram apenas beliscados, tocados ao de leve, se compararmos com o desastre absoluto que é estar desempregado aos 40 anos, sem qualquer esperança de voltar a ter emprego, com a derrocada da economia familiar, da casa, do carro quando havia, dos estudos dos filhos, de uma vida que era decente e que agora é indecente. O Governo aparece como atacando as pessoas, rasgando os contratos com elas, e, em contraste, como tendo um sumo respeito pelos interesses, mesmo quando, como no caso das PPP, roçam o crime.»
Pacheco Pereira (Versão do Público de 7 de Julho de 2012.)