22/04/13

Sobre a "realidade alemã" (3)

Ainda a respeito deste assunto, pode ser interessante referir um tema que tem andando a ser discutido entre alguns economistas nas últimas semanas - um estudo do BCE que, aparentemente, demonstra que uma família alemã mediana será menos rica que uma família espanhola (ou, já agora, grega ou portuguesa) mediana (atenção que estamos a falar de riqueza, não de rendimento):

Este estudo tem sido usado nalguns meios para rejeitar mais "ajudas" da Alemanha aos países do Sul, com  argumentos do género "os pobrezinhos dos alemães não têm que andar a sustentar os ricos dos espanhóis, portugueses e gregos", mas esse argumento deixa de lado um ponto importante - mesmo que o alemão típico seja mais pobre que o espanhol ou o português típico, a Alemanha é um pais muito mais rico que a Espanha ou Portugal (quem imaginaria tal coisa?) - a baixa riqueza do alemão típico é, simplesmente, o resultado de uma grande desigualdade da repartição da riqueza na Alemanha.

A esse respeito, o artigo "Are Germans really poorer than Spaniards, Italians and Greeks?" (via Tiago Tavares), por Paul de Grauwe e Yuemi Ji, onde aliás foi "roubar" aquele gráfico:
A recent ECB household-wealth survey was interpreted by the media as evidence that poor Germans shouldn’t have to pay for southern Europe. This column takes a look at the numbers. Whilst it’s true that median German households are poor compared to their southern European counterparts, Germany itself is wealthy. Importantly, this wealth is very unequally distributed, but the issue of unequal distribution doesn’t feature much in the press. The debate in Germany creates an inaccurate perception among less wealthy Germans that transfers are unfair.

3 comentários:

Anónimo disse...

Chamo a atenção de uma entrevista do economista Jean-Paul Fitoussi no Libération, dia 23 do mês que agora termina. Trata-se de uma peça de grande acuidade e informação.Fitoussi ataca a política de competividade- cada um por si e contra todos!, sublinha- exclusiva praticada pela Alemanha e, sobretudo, do " equilibrio de terror " em que vivem os países, como Portugal, a Irlanda, a Espanha e a Itália assim como a França. que temem a subida das taxas de juro por imposição dos mercados especuladores.Realça ainda o facto de a Grécia já não se encontrar em recssão ,mas sim, " numa depressão de uma violência inimaginável ", sic. E, subtilmente, realça que o BCE não cumpre ainda as suas funções " em pleno ". Trata-se de uma análise para qualificar o sistema, não se iludam, mas de grande qualidade técnica e teórica para se fazer entender...Salut! Niet

João Branco (JORB) disse...

espera, o que diz aí é que há mais desigualdade na Alemanha do que em Portugal ? Sempre nos cantaram a cantiga que Portugal era o país com mais desigualdades da Europa !

Miguel Madeira disse...

Isto refer-se a desigualdade na distribuição do património; em termos de distribuição do rendimento pode ser diferente.