11/08/13

De duas edições de Anselm Jappe pela Antígona a um post de André Bonirre e a um outdoor do BE

Não é preciso imitar a vaga fuga para diante de Anselm Jappe, quando, depois de admitir que toda e qualquer sociedade concebível terá de resolver de uma maneira ou de outra o problema da produção, se limita a assinalar que considera insuficientes todas as alternativas até hoje propostas nesse domínio e se contenta com acrescentar que a democratização da economia (sem explicar demasiado o que entende por ela) não é garantia bastante, para reconhecermos a riqueza de perspectivas que alimenta a sua crítica do capitalismo e fazermos nossa a sua reivindicação de uma reincrustação da economia que a subordine  à vontade lúcida e responsável de uma outra forma de organização social mais justa e igualitária. Daí que seja importante chamar a atenção para a publicação pela Antígona de mais um seu título, Conferências de Lisboa (tradução de António Guerreiro e outros, Lisboa, 2 013) após a edição portuguesa de Sobre a Balsa Medusa. Ensaios acerca da decomposição do capitalismo (tradução de José Alfaro, Lisboa, 2012).

Deixando para outra ocasião uma leitura um pouco mais desenvolvida das teses de Jappe, aqui faço questão de deixar desde já um exemplo da sua força inspiradora, tal como a aplica e sublinha um texto tão originalmente concebido e radical como o que, no blogue A Natureza do Mal, André Bonirre acaba de publicar sobre o outdoor do BE: "Tudo o que foi roubado / Tem de ser devolvido", e cuja conclusão aqui se transcreve:


Anselm Jappe, na esteira dos situacionistas e de Robert Kurz, acha que esta visão [ou "versão bloquista, encantadoramente ingénua, onde um cortejo de arrependidos, acordado pelas trompas dos anjos, se levanta de Cabo Verde a Belém, do Brasil aos Conselhos de Administração, dos gabinetes de advogados ao Parlamento, da Ongoing ao governo, e vem entregar o capital que fraudulentamente desviou"] dos capitalistas malvados ou, nas suas palavras, da aliança entre os banqueiros e os políticos corruptos é simplista. Que a crise actual e a própria natureza do capitalismo, a sua incrível capacidade destruidora, as suas contradições, resultam da economia se ter separado da sociedade e de ter colocado a sociedade ao seu serviço. E a raiz desse comportamento esquizofrénico e suicida está na essência mesmo da economia mercantil, e não pode ser alterado substancialmente pela melhor repartição, pela regulação, pelo Estado social, nem, pasme-se, pela alteração da propriedade dos meios de produção. A mercadoria, o trabalho, a formação do valor têm de ser submetidos a uma crítica lúcida se quisermos compreender e modificar “ a mercadorização” de todos os aspectos da vida.

Apontar o dedo aos ladrões satisfaz as turbas e a necessidade dos humanos em encontrar e punir os culpados. Mas teríamos de ir mais longe, e, continuando a desprezar os que roubaram, procurar ver além dos outdoors. 


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