31/10/13

O processo revolucionário


Neste texto, Chris Hedges defende a importância da difusão de ideais revolucionários no desmantelamento de sistemas de controlo sócio-económico. Segundo ele, antes que qualquer processo revolucionário possa ter lugar, é necessário que uma fracção significativa da população deixe, não só de crer que o sistema serve os seus interesses, mas também que passe a acreditar que existe uma alternativa mais apelativa:

"Once ideas shift for a large portion of a population, once the vision of a new society grips the popular imagination, the old regime is finished."

A revolução é um processo subterrâneo. Cuja intensidade varia com o tempo. A irupção à superfície pode estar à distância dum evento que, por si só, poderá parecer insignificante. Como processo fortemente não-linear, a previsão de quando e como é um passo arriscado. Mas, dificilmente, a injecção de instabilidade num sistema o deixará incólume. Assim, apesar duma manifestação poder ser vista como uma aferição do grau de descontentamento da população, gerando desilusão entre quem aspira à revolução quando a sua dimensão é menor do que o esperado, na verdade, a sua utilidade reside principalmente na capacidade destabilizadora que possui. Ao introduzir a dúvida naqueles que a ela assistem, corrói os alicerces da crença pessoal, nomeadamente nas virtudes dos sistemas político e sócio-económico, se a eles se dirigir a contestação. Mas, para que quem vê ameaçadas as suas crenças não retraia para uma posição de obstinação defensiva, ou se renda ao niilismo, é necessária a existência de ideias capazes de seduzir e substituir as crenças anteriores. Num processo revolucionário não há objectivos intermédios. Alimenta-se destabilizando continuamente, na rua e em todos os outros lugares, os paradigmas dominantes e dando corpo a ideias capazes de os substituir.

Outras leituras relevantes para o momento em que nos encontramos:

Pouco a acrescentar: as manifestações de Outubro e a luta contra a austeridade

«Até onde vamos aguentar?»

Mobilização e inércia

1 comentários:

Niet disse...

O grande virtuosismo intelectual e politico de Chris Hedges remete para a heróica tradição libertária norte-americana glosando admiravelmente no texto exposto, o ideário anarco-comunista libertário de Alexander Berkman que com a sua companheira assistiram ao massacre de Kronstad pelos bolcheviques em 1921, gesto de consequências trágicas para a auto-determinação final do proletariado russo face ao rigor e desumanidade da equivoca " ditadura do proletariado " gerada pelos cérebros delirantes de Lénine e seus aprendizes-de-feiticeiro... Não resisto a traduzir uma observação prodigiosa de Castoriadis sobre a " melhor definição " que se pode dar de uma revolução na época contemporânea: " Nem barricadas, nem tomada do palácio de Inverno( que só foi um golpe de Estado),mas reconstituição da unidade política da sociedade pela acção. Um periodo revolucionário, gera-se quando cada qual cessa de ficar em casa,cessa de ser o que representa: sapateiro, jornalista, operário ou médico; e tornando-se um cidadão activo que deseja qualquer coisa para a sociedade e a sua instituição, considerando que a realização disso depende directamente dele e dos outros, e não de um voto ou do que os seus representantes realizarão por ele. Uma tal revolução não é violenta por definição, pode ter lugar sem a menor gota de sangue.(...) A grande questão da nossa época consiste: como interpretar o facto que esta unidade politica numa actividade politica responsavel só conseguiu até hoje realizar-se de maneira paroxistica, por crises? E por detràs disso, o que encontramos, radica no seu conjunto no problema da instituição da sociedade ", in " La création humaine. III ",2008. Salut! Niet