16/12/13

A estratégia dos gestores - conclusão

A quinta e última parte do artigo do colectivo Passa Palavra sobre a estratégia dos capitalistas europeus pode ser lida aqui.

«Em 2014 realizar-se-ão eleições europeias e a esquerda e a extrema-direita farão campanha pela dissolução da zona euro. No mesmo ano em que o primeiro pilar da união bancária europeia, o SSM (Mecanismo Único de Supervisão bancária), deverá estar em fase de conclusão, as bandeiras da esquerda andarão em torno das investidas nacionalistas. Bizarra situação em que a esquerda pensa estar a lutar por algo exequível, quando nem o jogo parlamentar decide o que quer que seja relativamente às orientações políticas fundamentais dos capitalistas.

Descobrir onde está a realidade e onde está a ficção não será muito difícil. Para o leitor interessado em questionar-se sobre estes assuntos, difícil é perceber porque o que se convenciona chamar de esquerda continua a não discutir os processos sociais de reorganização do capitalismo e prefere reduzir as manifestações do capitalismo a uma gigantesca máquina manipulatória de poder e de saque evocadora da finança feudal. O quadro programático dessa coisa chamada esquerda não é muito mais do que uma colecção de teorias da conspiração.


(...)

Como se teve oportunidade de verificar no decorrer da nossa análise dos documentos e testemunhos dos gestores, as crises económicas constituem formas de inovação e de reorganização institucional por parte da classe dominante. Enquanto as várias correntes da esquerda oficial pensam que os capitalistas andam à deriva, e enquanto a direita suspira por lideranças individuais à altura da situação, os capitalistas têm um plano estruturado, sistematizado e partilhado por todas as suas altas instâncias. Aliás, os murmúrios da direita portuguesa por personalidades e dirigentes fortes e carismáticas é um sinal da sua obsolescência política. O sucesso da reorganização institucional está cada vez mais sustentado em traços estruturais e organizacionais da classe dos gestores e é muito menos dependente de figuras especiais e marcantes. É isso que explica que os procedimentos institucionais levados a cabo pela tecnocracia europeia, no concreto e no imediato a união bancária, preparem a nova fase de recuperação económica e já estejam a ser aplicados. O que para a maioria da população não merece mais do que uma nota de rodapé no telejornal é, para a classe dominante, um avanço na sua coesão interna e na transnacionalização da sua actividade.

Enquanto por toda a Europa essa coisa que se chama de esquerda direcciona as suas fanfarras militantes para os governos e os casos de corrupção dos ministros, e enquanto essa esquerda pensa ver a crise económica como antecâmara para vias políticas nacionais, os capitalistas demonstram estar com vários passos de avanço. O facto de a realidade ser contrária aos nossos desejos não implica que se deva preferir a ilusão e a histeria à realidade.

Se a classe trabalhadora não souber contra quem e em que condições concretas pode lutar, todas as manifestações de luta não serão diferentes de investidas quixotescas contra moinhos de vento. Inventando monstros fictícios, os dirigentes da esquerda não são afinal mais do que Rocinantes a lançar a cabeça de activistas e de trabalhadores contra a parede».
Para quem estiver  interessado, a série A estratégia dos gestores é formada pelos seguintes artigos:

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