12/04/14

Razões para o impasse



Um pequeno texto de Jerome Roos, sobre as razões do impasse em que actualmente se encontra a contestação ao modelo capitalista (em inglês):

(…) para além do factor mais imediato de inibição do protesto (a repressão estatal violenta), por que não estamos mais lá fora, nas ruas? Gostaria de sugerir que (…) podemos identificar pelo menos três fatores inter-relacionados (…) subjacentes ao caráter relativamente efêmero do protesto contemporâneo:

A total desagregação e atomização do tecido social, em resultado do aumento do endividamento e da precarização do trabalho no capitalismo financeiro, juntamente com o aparecimento dos supostamente "revolucionários" novos meios de comunicação social, que podem ser ferramentas muito úteis para coordenar protestos, mas que nos tornam cada vez mais incapazes de manter unidas coligações populares amplas. A atomicidade social do capitalismo tardio inibe o desenvolvimento de um sentimento de solidariedade, torna muito mais difícil a auto-organização no local de trabalho e a construção de movimentos autônomos fortes e duradouros a partir da base.

O sentimento generalizado de ansiedade provocado pelo mantra neoliberal da produtividade permanente e conectividade constante, e que mantém as pessoas isoladas e perpetuamente preocupadas com as exigências do momento presente, impedindo o pensamento estratégico e a organização de base de longo prazo. Intimamente ligada ao aumento do endividamento e da precariedade, a ansiedade torna-se o efeito dominante sob o capitalismo financeiro. Enquanto a ansiedade é facilmente transformada em breves explosões de raiva, os seus efeitos paralisantes criam uma barreira psicológica ao investimento e envolvimento em relações inter-pessoais e projetos sociais de longo prazo.

A enorme sensação de futilidade que as pessoas experimentam em face de um inimigo invisível e aparentemente intocável - o capital financeiro - que nós simplesmente não conseguimos confrontar diretamente nas ruas, nem desafiar com um mínimo de significado no parlamento ou no governo. Na esteira do fracasso evidente das mobilizações recentes, no que se refere à sua capacidade para produzir qualquer mudança imediata ao nível de resultados políticos ou política econômica, as pessoas estão compreensivelmente desapontadas com o que percepcionam ser a falta de sentido do protesto de rua. A futilidade - a convicção de que "não há alternativa" ao controle capitalista - torna-se, assim, a mais importante arma no arsenal ideológico do imaginário neoliberal.(...)"

1 comentários:

David da Bernarda disse...

Eu acrescentaria um outro factor: a falta de esperança que se dissipou pela derrocada do modelo "comunista" que demonstrou ser uma falsa, e perversa, alternativa ao capitalismo.
Sem um princípio esperança, de que falava Bloch, não há luta social ofensiva, nem Revolução Social possível. Vivemos uma prolongada ressaca, só o nascimento de novos movimentos, com novos actores, novas ideias e um novo tipo de optimismo, e esperança, poderão relançar a luta anti-capitalista. Isso, se forem capazes de preservar a memória e aprender com o passado...