12/11/15

Os governos de coligação com a extrema-esquerda são instáveis

1938 França - O Partido Radical (apesar do nome, o mais à direita dos partidos da Frente Popular,em termos portugueses algures entre o PS e o PSD) abandona a aliança com socialistas e comunistas (com quem aqui haviam concorrido aliados às eleições de 1936) e forma um governo em aliança com a direita, sendo das primeiras medidas do novo governo revogar a legislação laboral da Frente Popular (nomeadamente as 40 horas semanais); com a nova aliança parlamentar entre os Radicais e a direita, o mesmo parlamento eleito quando da vitória da Frente Popular em 1936 virá  ilegalizar o Partido Comunista (em 1939) e finalmente a conceder "plenos poderes" ao marechal Petaín (em 1940).

Outros exemplos de como a extrema-esquerda fez cair os governos das coligações em que participou:






7 comentários:

Niet disse...

Li agora mesmo um artigo de um antigo Secretário de Estado. yankee, Paul Craig, em que ele sublinha que Centeno, um neo-liberal soft estilo Harvard, declarou ao Finantial Times que a austeridade deve continuar em Portugal, mas, em doses brandas. Que linda perspectiva! O que se desenha, por isso, é uma nova fase de exploração capitalista em que o PC e o BE se encarregam, é o termo, por tentar manipular e enquadrar o élan transformador do proletariado, de forma a desarmar as tentativas de criação de uma tentativa autónoma do poder popular. Niet

rui cs disse...

"desarmar as tentativas de criação de uma tentativa autónoma do poder popular." Que tentativas é que existem com tanta pujança que sejam desmanteladas pelo PCP e BE? Onde estão elas?

Niet disse...

Rui CS: A história do desenvolvimento, e o correlativo acontecimento, da luta de classes é imprevisivel. Nunca se sabe o que nos pode trazer o dia de amanhã.Ora, " obedecendo " à lógica de ferro do capitalismo, é que, qualquer falsa e estropiada delegação burocrática que tente envolver e manietar o proletariado, acaba por inviabilizar a mudança.São mais de 150 anos de epopeia! Niet

rui cs disse...

O argumento que dá - a luta de classes é imprevisível - permite que se defenda quer a coligação quer que se a contrarie. Perante algo que se considera imprevisível não há nenhuma acção que tomada possa de antemão dizer-se que terá um efeito positivo ou negativo.

Niet disse...

Demorou 8 dias a constituir a réplica, caro rui CS. O que está lá no que escrevi, no entanto,foca o caso da luta de classes vir a ser manipulada e enquadrada por uma organização(ões) que tenta(m) afastar, a priori, a iniciativa e auto-organização da luta criada pelos explorados. Por isso, o desencadear iniciático é imprevisivel. " Em politica e história nada se pode prever seriamente ", frisa Castoriadis, quje acrescenta: " É verdade que as pessoas hoje não acreditam na possibilidade de uma sociedade auto-governada, e isso faz com que uma sociedade como essa seja, hoje, impossivel. Não acreditam porque não querem acreditar, não querem acreditar nisso porque não acreditam. Mas se um dia passarem a querer, acreditarão e poderão ", in Une sociétè à la dérive, C. Castoriadis.2005. Salut! Niet

rui cs disse...


Caro Niet,

Exponho-lhe aqui algumas contradições minhas e por fim apresento algumas conclusões:
1) por um lado desejava que em agosto o Syriza tivesse sido consequente com o resultado do referendo e com a recusa em aprovar um memorando que prolonga a austeridade.
2) creio que o fim da austeridade implica ou uma (por agora, inimaginável) mudança drástica da direcção da política europeia ou a saída unilateral ou plurilateral dos países mais afectados por ela da zona euro.
3) contudo, nas presentes circunstâncias, estou modestamente optimista perante o acordo realizado: porque este acordo e a possibilidade de a austeridade poder ser revertida mesmo que parcialmente é importante para combater a degradação da vida das pessoas e em última instância verificar as possibilidades de reverter (ainda que de forma limitada) a austeridade no contexto das 'regras europeias' (uma vez que o PS assume querer ser fiel a elas).
4) desejo uma sociedade não hierarquizada, e não dividida entre representantes (actores políticos) e uma massa imensa de pessoas sem capacidade (prática) de decidir sobre a organização colectiva das sociedades às quais pertencem.
Contudo, que a luta de classes vem sendo manipulada - antes de o ser por organizações que como diz " tenta(m) afastar, a priori, a iniciativa e auto-organização da luta criada pelos explorados" - não é nada que possa ser potenciado mais ou menos por este acordo à esquerda.
No meu entender, a luta de classes tem sido manipulada desde há muito tempo:
- quando se abandona progressivamente a produção industrial e se deslocaliza a produção para outros países e continentes;
- quando se destrói a contratação colectiva e se desarticula a noção de um conjunto de trabalhadores num determinado local partilha as mesmas condições de trabalho, de remuneração, dificultando a articulação de lutas por direitos dos trabalhadores;
- quando se promove a migração maciça de centenas de milhares de pessoas (se pensarmos em todas as pessoas que têm sido obrigadas a emigrar saindo de Portugal, Espanha, Itália, Grécia, isto só mencionando a austeridade posterior a 2008);
- quando se destroem serviços públicos substituindo-os por bens privados aos quais só acedem quem tem poder aquisitivo.
Estas e muitas outras são formas de destruir sociedades e reconfigurar relações sociais e de dinâmicas de classe, e têm sido aplicadas ao longo de décadas.
Não me parece que aquilo que possam eventualmente ser as consequências negativas da influência de "organização(ões) que tenta(m) afastar, a priori, a iniciativa e auto-organização da luta criada pelos explorados" seja minimamente comparável ao modo como a luta de classes tem vindo sendo manipulada nas últimas décadas.
Por estas razões, respeitando como sempre o seu ponto de vista, saúdo como positiva este acordo inédito que agora se deu entre PS, BE e PCP.
Cumprimentos,
Rui

Niet disse...

Carissimo: Tem parcialmente razão, meu caro. E é muito fácil sair desse circulo vicioso: são as próprias organizaões-ditas-representativas-do-proletariado que, no interior do " sistema " hierarquico-repressivo, manipulam/desactivam e secundarizam a tomada em mãos pelos reais e efectivos" actores " da luta em prol da suja libertação. Salut! Niet