15/11/15

"Pressão no trabalho e meritocracia"

Ontem no Expresso (Economia) com uma espécie de sondagem sobre que sacrifícios os trabalhadores europeus dizem estar dispostos a aceitar nos próximos anos; aparentemente os resultados estão divididos em 3 categorias: mais "horas de trabalho", menos "proteção social" e mais "pressão no trabalho ou meritocracia".

À partida, isto parece-me como um estudo sobre possivel solução para o alegado problema da obesidade infantil, que refira 3 possíveis soluções: "comerem menos", "construir mais parques infantis" e "comerem vegetais e terem choques elétricos ao deitar" - não é muito claro qual a ligação entre os vegetais e os choques elétricos, e a mim também não vejo qual a grande ligação entre "meritocracia" (isto é, as pessoas terem promoções e prémios de acordo com o seu mérito, e não por serem filhos de A, amigos de B ou amantes de C) e "pressão no trabalho"; aliás, enquanto imagino que a maior parte da pessoas achem que mais "pressão no trabalho" é uma coisa à partida má (que até pode valer a pena se os resultados compensarem, mas mesmo assim é será visto como um sacrifício necessário, não como uma coisa boa), suspeito que quase* toda a gente achará que "meritocracia" é uma coisa boa (suspeito que mesmo os tais filhos/amigos/amantes achem que, em abstrato, a meritocracia é boa); ok, é verdade que numa sociedade em que se espere que as promoções vaiam para quem tem mais "mérito" haja mais incentivo para trabalhar em grande ritmo do que numa sociedade em que se está à espera que, aconteça o que acontecer, o promovido seja o sobrinho do diretor, mas não me parece uma ligação suficientemente forte para se poder juntar as duas coisas (aliás, confesso que me cheira a propaganda o associar "pressão no trabalho" a algo - "meritocracia" - que intuitivamente é considerada como positivo).

*há interessantes exceções: p.ex., Michael Young, o inventor da expressão "meritocracia", era da opinião que as pessoas na parte "de baixo" da sociedade seriam mais infelizes numa "meritocracia" do que noutra sociedade, já que nem teriam o conforto de se verem como vítimas da injustiça; creio que também Laurence Peter (do chamado "Princípio de Peter") escreveu algures que uma sociedade aristocrática tinha ao menos a vantagem que alguns cargos seriam ocupados por pessoas competentes (enquanto numa sociedade "móvel" os competentes vão sendo promovidos até ficarem num cargo em que sejam incompetentes e a sua carreira estagne a partir daí)

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