08/04/16

Propostas para discussão

O colectivo ROAR divulgou uma carta aberta intitulada "Collective letter: some possible ideas for going forward". Pretendem que as ideias que dela constam sirvam de ponto de partida para a constituição dum esboço de programa comum para aqueles que se identificam com o que convencionalmente se designa por Esquerda. O documento divulgado contém muitas ideais interessantes e que merecem o meu apoio. No entanto, acho que falha ao colocar, em demasia, a tónica na acção ao nível do Estado, patente na frequência com que sugerem ser a criação de leis o meio para atingir certo fim. Associada, está a identificação do nível nacional como aquele onde preferencialmente a maior parte das medidas apresentadas devem ser discutidas e/ou implementadas. Apesar de existir no documento uma visão claramente internacionalista, esta parece reduzir-se, no que se refere à implementação de medidas concretas, a uma colaboração inter-estatal/inter-nacional. Compreendo que se queremos obter apoio social para a transformação sócio-económica que desejamos, será mais fácil evitar o confronto com a convicção generalizada de que apenas o Estado pode assegurar o governo dos assuntos de interesse comum à comunidade. E é até possível que entre os signatários deste documento, muitos partilhem dessa convicção. Mas estranho que nele não seja realmente considerada a possibilidade do caminho para essa desejada transformação sócio-económica ser feito, essencialmente, fora das estruturas do Estado. Todos sabemos que existem duas grandes correntes de pensamento à Esquerda, as quais distinguem-se no se refere à sua opinião sobre a utilidade das estruturas existentes, nomeadamente o Estado, na persecução da transformação pretendida. Hoje, talvez mais do que em qualquer outra época histórica, é importante perceber que os dois caminhos complementam-se, reforçam-se, e servem de apoio mútuo quando em diferente circunstâncias um dos caminhos é bloqueado por aqueles que se nos opõem.

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