07/05/16

Se se afogar é inocente se flutuar é culpado.

O título deste post faz referência à forma como no século XVII as mulheres acusadas de bruxaria eram avaliadas. Atiradas ao rio duas possibilidades lhes restavam: se flutuassem eram obviamente culpadas e seriam queimadas; caso se afogassem, não restariam duvidas da sua inocência. No entanto, a morte era o seu destino inevitável. Esta história foi recordada por Gary Young, no "The Guardian" de hoje, a propósito da posição adoptada pela imprensa  britânica relativamente a Jeremy Corbyn, o líder do Labour. Sob o título "Ignorem os profetas da desgraça. Corbyn mostrou que é um líder viável",  Young analisa a evolução do Labour sob a liderança de Corbyn e compara o posicionamento da imprensa com parte dos seus opositores internos. Desmonta a tese de que uma liderança tão obsessivamente identificado com posições radicais seria insusceptível de conquistar a classe média, essa condição tão hipervalorizada de sucesso eleitoral e de conquista do Governo do país. Dá como exemplo os resultados obtidos em cidades identificadas com elevados níveis de vida (bellwether towns),como Southampton ou Harlow. Vale a pena ler.
Por cá, falando de imprensa, o panorama é o mesmo. Hoje no Público, dá-se um grande destaque às eleições em Inglaterra. Valorizando o resultado na Escócia, que identifica com um cartão vermelho mostrado a Corbyn é na notícia sobre a vitória do Labour em Londres - edição em papel -  que o carácter anti-Corbyn se destaca. A jornalista salienta que "Sadiq Khan não está disposto a partilhar a vitória com o líder trabalhista Jeremy Corbyn". Lendo e relendo a notícia não se percebe onde é que foi encontrado o fundamento para esta conclusão. Declarações de Sadiq? Declarações de alguém que integra a sua candidatura? Nada disso. Apenas declarações que foram retiradas da imprensa ao longo das últimas semanas. Quer de criticos de Corbyn - os que anunciavam a implosão do Labour nestas eleições -  quer dos que, prevendo a vitória em Londres, começaram imediatamente a construir o cenário do julgamento da bruxa, não fosse o caso de ela flutuar. Mas se ignorarmos o destque dado na notícia junto à foto de Sadiq e lermos apenas o texto o que encontramos? Escreve a jornalista "Khan conseguiu que o Labour retirasse a cidade aos tories, mas não estará disposto a partilhar a vitória com Jeremy Corbyn, o líder do Partido Trabalhista." Neste caso o tempo verbal era ainda marcado pelo condicional. No destaque essa condição desaparece e recorre-se à afirmação. Afinal a bruxa flutua.

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