22/10/16

Estranhos contentamentos e outros pormenores

Que bom, estes elogios. Estamos a fazer um bom trabalho. Será?
Draghi e os seus muchachos terão desistido da austeridade, ou teremos sido nós que nos ajeitámos bem a esta nova "mutação da austeridade"? Falta só pagar o crédito mal-parado ... com o dinheiro dos contribuintes, muito provavelmente. Isso é que era mesmo bom. Bom, mas para isso não chega rapar mais 30 ou 40 euros por mês nas pensões mais baixas ou sacar 50 milhões aos doentes-malandros que se habituaram a estar doentes-sem-necessidade à moda do  "tio-Mota-Soares". É coisa de outra dimensão.
Como escrevi aqui este caminho que estamos a percorrer é fácil de identificar. Não podia ser percorrido pela Troika+PSD+PP, porque esses faziam da implosão do Estado Social a sua ideologia e o seu compromisso de todos os dias. Não podia ser percorrido pelo PS sozinho, porque historicamente o PS nunca percorreu estes caminhos, muito menos com estas parcerias politicas. Trata-se pois de um caminho percorrido por um PS condicionado, à esquerda, mas com força suficiente para se acomodar de forma confortável sob a pressão intensa feita de Bruxelas. A hábil gestão politica de Costa pode determinar - os resultados apontam nesse sentido - um reforço da posição do PS. Reforço eleitoral que pode passar por mudança de votos do eleitorado PSD, o tal bloco central, ou por uma maior expansão à esquerda mantendo o BE mais o PCP confortavelmente acantonados abaixo dos 20% do eleitorado. Será aí que se vai ver o que nos espera no futuro. Ficaremos então a saber se a austeridade-soft veio para ficar ou se estamos apenas perante um ponto de paragem para ganhar forças para as batalhas seguintes.

PS - as eleições em Lisboa podem ser decisivas para se saber os tempos que aí vêm. A incapacidade de as esquerdas, que apoiam o governo, se unirem numa candidatura comum liderada por Medina pode impedir a aprovação de um programa arrojado para concretizar na cidade aquilo que o actual Presidente da autarquia classificou como "uma  Lisboa para todos". Coisa a discutir e pormenorizar que a vida não é um slogan. Pode assim hipotecar-se o que seria um excelente ensaio, para uma nova estratégia que uma geração com outra visão e outra força podia aspirar a concretizar no país. Uma solução incomum para um tempo politico absolutamente diferente. Metendo as mão à obra, no dia a dia de centenas de milhares de cidadãos, para mostrar como se pode fazer no país.

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